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Belem, PARÁ, Brazil
Graduado em Historia.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

INGENUIDADE DO TECNOBREGA

O tecnobrega é um gênero musical popular surgido no estado do Pará, no início dos anos 2000. Trata-se de uma fusão da tradicional música brega com a música eletrônica, tendo, portanto, a tecnologia como um elemento fundamental. Deriva de ritmos como Carimbó, Siriá e outros gêneros populares como o calypso e guitarradas, incorporando sintetizadores e batidas eletrônicas. O estilo também se destaca por ter se desenvolvido independentemente das grandes gravadoras, criando um mercado com formas alternativas de produção e distribuição. Porém, o ritmo possui letras de conteúdo muitas vezes com refrões com ambigüidade como: “passa o serrote”; “ela ta beba doida, ta doida, ta bêbada”. “Em alguns casos, músicas de cantores como Beyonce, Lady Gaga etc., tiveram suas versões plagiadas em tecnobrega.
O Governado do Estado do Pará Simão Jatene vetou integralmente o Projeto de Lei nº 130/08, que declara como patrimônio cultural e artístico do Estado do Pará o ritmo do tecnobrega, as aparelhagens de som e seus símbolos. A cultura do tecnobrega se transformou também em produto de consumo vendido em quase todas as vias do Estado do Pará em conjunto com outros recursos como a reprodução em massa de filmes hollywoodianos que vem sendo pirateados e vendidos e combatido pelo frágil aparelho repressivo do Estado (policia e judiciário).
O professor da UFPA Arthur Leandro em debate na TV Cultura no programa “SEM CENSURA PARÁ”, afirmou que as vendas destes produtos pelos “camelos”: são formas de popularizar a cultura, inclusive os conteúdos de conceitos históricos que facilitarão a população desprovida de recursos para obtenção de tais, refletindo na inserção destes, a conhecimentos e a produtos tecnológicos que eram apenas produtos de uma minoria privilegiada
O fato é que produtos de cultura de massa que antes não estava disponível a classe mais baixa hoje com a pirataria se converge com mais facilidade a esta classe, com isso criando uma crise na indústria de cultura de massa que tem o apoio dos governos que criminalizam esta venda ilegal pelo ponto de vista do direito positivo, enquanto os trabalhadores ambulantes se defendem, que o negócio deste produto, é uma forma de sobreviverem com a venda no cambio ilegal.
Enquanto estes produtos se popularizam no estado Pará como cultura de massa que atinge grande parcela dos jovens que estão na fase do ensino médio, sendo que nos fins de semana e ate dias úteis, festas com aparelhagem estão abarrotas desses jovens que são atraídos por estes eventos que não podem ser negados como cultural, mas que não há uma mensagem codificadora para a reflexão social, político e econômico no status quo, e que certamente os excluirão e limitarão aos seus direitos fundamentais como cidadãos no futuro. Fonte de pesquisa do IDEB, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica que mede a qualidade de educação no Brasil, aponta o Estado do Pará com 3,1 entre os piores índices de educação do Brasil no ano de 2010 no ensino médio, igualando com Estados como - Alagoas, Amapá, Rio Grande do Norte. Está a frente apenas de Piauí (3,0), sendo que o maior índice é do Estado do Paraná (4,2).
A negligência com a educação é histórica, e este fato não pode assumir como ponto divisor de água no contexto escolar do Pará. Mas não se pode negar o envolvimento dos alunos principalmente os vitimados por apelo musical do tecnobrega como: cultura de massa, laser alienado, consumo alienado. A música tem significados imediatos, atingi a felicidade efêmera destes jovens que se ignoram como agentes sociais e se realizam com textos musicas despretensiosos de senso crítico.
A música popular brasileira sempre ocupa um lugar especial na história da música popular brasileira que foram e são usadas nas escolas por educadores. Os artistas e jovens da cultura popular e erudito que usavam a tecnologia e a música, principalmente em períodos de ditaduras com estilos do samba, pagode, rock, carimbo, siriá, brega, chorinho, sertaneja, românticas, gospel e etc., conclamavam a sociedade para a beleza da terra como o mestre Verequete; Mosaico da Ravena “Belém Pará Brasil”, combate ao etnocentrismo; Geraldo Vandré – “Pra não dizer que não falei das flores” que reagiu contra o Estado autoritário, em que os lideres políticos lhes chamavam de subversivo; Chico Buarque de Holanda, com versos fortes e politicamente comprometidos de suas canções tinha que dissimular as letras da música para enganar a censura com suas musicas: composições de “Cálice” (Chico Buarque e Gilberto Gil, 1973). “Apesar de você” (1970), escrita assim que voltou do exílio. Uma leitura menos atenta da música permite que seu tema seja identificado como uma briga de namorados, por esse motivo que passou pela censura. Este samba, tornado hino de resistência à ditadura, um jornal insinuou que a música teria sido escrita em homenagem ao presidente Emílio Garrastazu Médici. A letra da música foi compreendida pelos militares, que proibiram a música, invadindo a gravadora e recolhendo os discos e destruíram. Chico foi indagado sobre quem era o “você” referido na música, respondeu que era uma mulher muito autoritária”. Era só uma comparação.
Apesar De Você(Chico Buarque).
Amanhã vai ser outro dia/Hoje você é quem manda/Falou, tá falado/Não tem discussão, não/A minha gente hoje anda/Falando de lado e olhando pro chão/Viu?/Você que inventou esse Estado/Inventou de inventar/Toda escuridão/Você que inventou o/pecado/Esqueceu-se de inventar o perdão/Apesar de você/Amanhã há de ser outro dia/Eu pergunto a você onde vai se esconder/Da enorme euforia?/Como vai proibir/Quando o galo insistir em cantar?/Água nova brotando/E a gente se amando sem parar/Quando chegar o momento/Esse meu sofrimento/Vou cobrar com juros. Juro!/Todo esse amor reprimido/Esse grito contido/Esse samba no escuro/Você que/inventou a tristeza/Ora tenha a fineza/De "desinventar"/Você vai pagar, e é dobrado/Cada lágrima rolada/Nesse meu penar/Apesar de você/Amanhã há de ser outro dia/Ainda pago pra ver/O jardim florescer/Qual você não queria/Você vai se amargar/Vendo o dia raiar/Sem lhe pedir licença/E eu vou morrer de rir/E esse dia há de vir/Antes do que você pensa/Apesar de você/Apesar de você/Amanhã há de ser outro/dia/Você vai ter que ver/A manhã renascer/E esbanjar poesia/Como vai se/explicar/Vendo o céu clarear, de repente/Impunemente?/Como vai abafar/Nosso coro/a cantar/Na sua frente/Apesar de você/Apesar de você/Amanhã há de ser outro dia
Você vai se dar mal, etc e tala.
A música “Cálice”, seria apresentado em um show promovido pela PolyGram. Mas os microfones foram desligados. A letra é uma analogia entre a Paixão de Cristo e o sofrimento da população com o regime autoritário. A frase “Pai, afasta de mim esse cálice / De vinho tinto de sangue” associa à agonia de Jesus no Calvário, mas a dupla intenção da palavra cálice/cale-se, remete à atuação da censura. Em outro trecho (Silêncio na cidade não se escuta) converge a incapacidade das forças repressoras para fazerem calar a voz da resistência. O silêncio é igual censura (quimera). E por fim, outro texto: “mesmo calada a boca, resta o peito e mesmo calado o peito, resta a cuca”. Trocando - a censura pode calar o povo, mas não impedi de sentir e pensar.
Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil)
Pai, afasta de mim esse cálice/Pai, afasta de mim esse cálice/Pai, afasta de mim esse cálice/De vinho tinto /de sangue/Como beber dessa bebida amarga/Tragar a dor, engolir a labuta/Mesmo calada a boca, resta o peito/Silêncio na cidade não se escuta/De que me vale ser filho da santa/Melhor seria ser filho da outra/Outra realidade menos morta/Tanta mentira, tanta força bruta/Como é difícil acordar calado/Se na calada da noite eu me dano/Quero lançar um grito desumano/Que é uma maneira de ser escutado/Esse silêncio todo me atordoa/Atordoado eu permaneço atento/Na arquibancada pra a qualquer momento/Ver emergir o monstro da lagoa/De muito gorda a porca já não anda/De muito usada a faca já não corta/Como é difícil, pai, abrir a porta/Essa palavra presa na garganta/Esse pileque homérico no mundo/De que adianta ter boa vontade/Mesmo calado o peito, resta a cuca/Dos bêbados do centro da cidade/Talvez o mundo não seja pequeno/Nem seja a vida um fato consumado/Quero inventar o meu próprio pecado/Quero morrer do meu próprio veneno/Quero perder de vez tua cabeça/Minha cabeça perder teu juízo/Quero cheirar fumaça de óleo diesel/Me embriagar até que alguém me esqueça.
As rádios locais do Estado do Pará se curvam ao estilo musical do tecnobrega sem a menor reação que venha inverter os equívocos das letras ambíguas, mas convergindo para a auto desmoralização social, além das músicas transportarem os jovens prática da ética hedonista, Claro que há exceção. Ao contrário das rádios de estágios históricos, em que a sociedade brasileira nos períodos autoritário buscou maneiras de reagir e se libertar do controle do Estado. As rádios que foram limitadas na liberação, devido o grande controle da censura nos anos de chumbo. Surgiram, naqueles anos, alguns modos de produção cultural que buscavam o acesso mais democrático à cultura que mesmo na dificuldade, mas as produções musicais tinham mensagem critico social ao contexto político.
A rebeldia civil foram ao ousadismo com as criações de rádios ilegais que despertavam reações ao status quo. Essas rádios representaram inovação, intervenção e criatividade, diante do período. Estavam diretamente ligadas à comunicação e à esfera política. Representaram a luta contra o controle que era exercido sobre os meios de comunicação e de radiodifusão por parte do Estado, objetivando garantir um espaço para a comunidade, buscando quebrar o controle das informações, divulgar o que não eram publicadas pelas emissoras autorizadas por canais de massa. Expressavam o verdadeiro exercício do direito democrático a informação do universo da comunicação como coisa pública.
Um exemplo foi às rádios livres ou rádios piratas, que o grupo do vocalista Paulo Ricardo, do grupo Rotações Por Minuto (RPM) retratou na música que embalou os anos 80. É uma pena que no Estado Pará, rádios fazem inversões dos interesses da década de 80, e que são usadas ainda como privilégios de poucos, que fazem de instrumentos de massa de manobra.
Rádio Pirata(RPM) - Abordar navios mercantes/Invadir, pilhar, tomar o que é nosso/Pirataria nas ondas do rádio/Havia alguma coisa errada com o rei./Preparar a nossa invasão/E fazer justiça com as próprias mãos/Dinamitar um paiol de bobagens
E navegar o mar da tranquilidade./Toquem o meu coração/Façam a revolução/Que está no ar/Nas ondas do rádio/No submundo repousa o repúdio/E deve despertar./Disputar em cada freqüência/O espaço nosso nessa decadência/Canções de guerra/Quem sabe/canções do mar/Canções de amor ao que vai vingar./Toquem o meu coração/Façam a revolução/Que está no ar/Nas ondas do rádio/No underground repousa o repúdio/E deve despertar!
O tecnobrega esta tão massificada que quase todas as propagandas, principalmente as moveis, que são embaladas com sons deste estilo. A critica deste texto ao tema, não é contra a arte ou a cultura do estilo musical tecnobrega, mas a absorvição deste estilo a industria cultural e a letra ambígua que vem carregada de apologia ao consumo de drogas lícitas e ilícitas como exemplo: “Sou é da galera da golada/Traz o balde de gelada/Que hoje a festa vai rolar...” que insinua o consumo de cerveja em balde nas festas de aparelhagem, se tornando um comportamento de status no consumo entre os jovens. Outra música foi o jingle da aparelhagem Pop Som: “é na segunda feira pó” analogia que se fazia ao consumo de droga o pó”, como se fosse uma festa especifica na segunda feira que rebanhava milhares de jovens neste dia, e o resultado era critico para os dados da segurança pública, assim como, na ausência e desinteresse de alunos na terça feira nas escolas. Outro fato é que pela velocidade que a industria do consumo exige de produtos músicas com gostos efêmeros dos consumidores alienados, não permite tempo aos artistas em transformar as letras das musicas em arte, mas sim em cultura de consumo. O exemplo são os plágios, como a versão de True colors, de Cindy Lauper: Reacender a chama de Gaby Amarantos(a Beyoncé do Pará), menos mal, pelo menos agrega sentimento, são vários outros exemplos.
Em entrevista a uma radio local, um compositor e empresário do tecnobrega, disse que para ele criar uma musica, basta um software e uma frase associando a uma aparelhagem para se tornar um grito de guerra, acompanhado de um embalo musical de anos anteriores. Pronto, esta formado o produto cultural de consumo, e logo de imediato já se tem que pensar em outra, se não vem outro empresário e cria outra música e passa aos interpretes e arrebenta. O que se percebe é que nada se cria, apenas se copia.
A arte é um sopro sagrado que só o artista tem, e a educação formal não pode intervir nesse dom, mas os conceitos teóricos poderão contribuir na elaboração de letras mais reflexiva. Portanto, o estilo brega deveria ser usado como estratégia em metodologia escolar par inverter este equívoco que diagnóstica o baixo rendimento dos alunos do ensino médio do Pará pelo IDEB.
A imprensa local em parceria com governo, comunidade estudantil e cominidade cívil e artistica, poderiam criar eventos musicais para o combater a extratégia da industria do consumo de cultura de massa que inviabiiza pouca criatividade artistica. Fato já registrado comprovado entre os quais Chico Buarque, Geraldo Vandré que sob a sigla MPB criaram o movimento engajado a protesto contra a Ditadura militar no Brasil. Os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, expoentes desse movimento que combatiam o Iê Iê Iê que ligava-se basicamente ao rock produzido no exterior, embora no Brasil tenha se mascarado com a suavidade romântica em uma abordagem muitas vezes ingênua, como Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia, Wanderléa, José Ricardo, Wanderley Cardoso e conjuntos como Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, The Fevers, que se transformou na jovem guarda, usado extrategicamente em alguns pontos como o tecnobrega paraense, mas vários destes cantores retificaram suas atitudes que antes foram cooptados pelo governo.
A transição para a década de 1970 foi a consolidação da chamada MPB e despontavam, Gal Costa, Elis Regina e Maria Bethânia. Nos anos oitenta nascia dentro do rock brasileiro o movimento BRock, com o surgimento de artistas como Blitz, Barão Vermelho de Cazuza, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor e Legião Urbana que viria contribuir para derrocada da ditadura militar, alem de combater a corrupção.
Por fim, rejeitamos a cultivar o estilo musical tecnobrega como causa do fatalismo da cultura paraense, mas sim, que se torne o resgate e consolidação da juventude ao processo de reflexão dos valores sociais, politicos e culturais que combata os ditames ideologicos que a industria da cultura de massa lhe impõe como simples consumidores alienados no tempo livre, na qual estes nao consegue distinguir tempo util, na qual o avanço tecnológico é colocado a serviço da reprodução da lógica capitalista, enfatizando o consumo e a diversão como formas de garantir o apaziguamento e a diluição dos problemas sociais que resulta na desumanização dos jovens que são em grande maioria vitima de violência urbana. Despertar os jovens da desesperança que se deve ao diagnóstico da ausência de consciência revolucionária, que vem sendo assimilado, absorvido pelo sistema capitalista, seja pelas conquistas trabalhistas alcançadas, seja pela alienação de suas consciências, promovida pela indústria cultural, que através da diversão se obteria a homogeneização dos comportamentos, a massificação das pessoas.
Não é o tecnobrega que tem que ser combatido, mas a intenção da indústria cultural e seus efeitos para a sociedade paraense.


Um comentário:

  1. Engraçado em outras regiões do país estilos de músicas horriveis são considerados como patrimônio cultural de seus estados, como argh o aché, o funck, o sertanejo e entre outros lixos; égua vamos valorizar o que é nosso, se os estudantes do Pará tem um péssimo desempenho nos estudos, a culpa é do sistema, porque com a educação de hoje eles podem passar a semana toda numa biblioteca e não vão render nada. Senhores vamos ter a nossa própria identidade para não ficarmos aculturados com os lixos musicais que vem de fora.

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