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Belem, PARÁ, Brazil
Graduado em Historia.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A CABANAGEM DESTINO MANIFESTO




A Cabanagem ocorreu durante o período regencial no Brasil (1840) foi o intervalo político entre os mandatos imperiais da Família Imperial Brasileira, pois quando o Imperador Pedro I abdicou de seu trono, o herdeiro D. Pedro II não tinha idade suficiente para assumir o cargo. Devido à natureza do período e das revoltas e problemas internos, o período regencial foi um dos momentos mais conturbados do Império Brasileiro.

A decadente economia da província do Grão-Pará, que englobava os atuais Estados do Pará, parte do Amazonas, Amapá e Roraima, era de subsistência, como a pesca, extração de madeiras e exploração das drogas do sertão, alem da produção de cacau. Utilizava-se a mão-de-obra escrava negra e a de índios que viviam em aldeias ou já estavam destribalizados e submetidos a um regime de semi-escravidão.
Os negros, índios e mestiços compunham a maioria da população inferiorizada do Grão-Pará e viviam agrupados nas pequenas ilhas e na beira dos rios em cabanas miseráveis (cabanos). Eles se autodenominavam “patriotas”, mas ser patriota não era necessariamente sinônimo de ser brasileiro. O principal alvo dos cabanos era os brancos, especialmente os portugueses mais abastados
Liderados a princípio por grupos da elite que disputavam o poder, os cabanos, insatisfeitos, resolveram assumir sua própria luta contra a miséria, o latifúndio, a escravidão e os abusos das autoridades. Os cabanos invadiram Belém, a capital da província, depuseram o governo que havia sido imposto pelos regentes e assumiram o poder. Formou-se então o único governo do país composto por índios e camponeses.
A TRAGÉDIA: DO TEATRO PARA A MORTE - A movimentação que antecedia horas antes do plano, era se deveria ou não prender ou matar, os três agentes executivo do governo legalista. Inicialmente a intenção era prender Lobo de Sousa, o comandante (Santiago) da armas e o capitão-de-fragatas Jamis Inglis, e remetê-los ao Rio de Janeiro, porém Antonio Vinagre queria a morte de todos para vingar a morte de seu irmão (Manoel Vinagre), marcaram a invasão para o dia 06 de janeiro. Neste dia havia uma apresentação de peça de tragédia teatral, no teatro localizado no largo das Mercês: tanto lobo de Sousa como Inglis e Santiago, se fazia presente. Então os cabanos marcaram a invasão só após o fim do espetáculo que terminaria na primeira hora do dia sete, para não constranger os seus familiares.
Lobo foi avisado que havia um grupo de cabanos no cocoalino que ficava atrás do atual prédio José Liberto, os cabanos sabendo dispersaram do local na chegada dos soldados. Por volta de uma hora da manhã, terminou a peça tragédia no teatro, o capitão Inglis se retirou a sua casa, situada na Travessa Passarinho, esquina da Rua Santana (campos Sales com Manoel Barata), alertou aos soldados para deixar um escaler, caso houvesse qualquer movimento lhe informa-se. O presidente Lobo de Sousa, rumou para o palácio, mas logo foi à casa de sua amante, Maria Amália que morava ao lado do palácio (Rua Tomásia Perdigão). O comandante das armas Santiago se recolheu a seus aposentos, no palácio.
A TOCAIA - Os cabanos deram início a invasão, Antonio vinagre, tomou o quartel dos corpos de caçadores e artilharias, outros invadiram a loja maçônica para vingar Batista Campos que não foi aceito quando em ida como membro, então queriam encontrar maçons e o padre Gaspar Siqueira Queiroz. Os cabanos que se tinham aquartelados na pedreira e Nazaré, ocuparam o palácio.
Conforme determinação de Ingles, foi mandado um escaler e um marinheiro que correu ate a casa do comandante da corveta. Imediatamente Inglis caminhou para o porto, ao pisar a bordo, declarou: - pois hei de ir a bordo sem saber o que se passa em terra? E desembarcou rumo ao largo do quartel (Praça Saldanha Marinho). Ao chegar na Travessa São Mateus (padre Eutíquio), encontrou uma patrulha, que indagou: quem vem la? – é o comandante Inglis – respondeu ele. Logo o cabano Domingos sapateiro deu-lhe um tiro, Inglis ainda teve força de dar dois tiros de pistola, mas não acertou ninguém, os cabanos o deixaram, pessoas levaram seu corpo para a casa de Artch Campbell.
O comandante das armas coronel Joaquim José da Silva Santiago que dormia no palácio, acordou espantado fugiu para o jardim, pulou muro do palácio e saiu para casa do juiz de direito que era seu irmão, localizado na Travessa Aljube (Cametá), atravessou o largo de são João (republica do Líbano atrás do palácio), próximo a casa do Aljubre onde era recolhido os padres por faltas graves, o cabano Felipe, vulgo “Mãe de chuva” deu-lhe um tiro, outros cabanos acabaram de lhe matar.
O ADUTÉRIO - Aranha sabia da amante do presidente, como este não estava no Palácio, então cercaram o quarteirão onde morava a viúva Maria Amélia, pressentindo Lobo de Sousa, este passou para uma casa vizinha, do professor Antonio Joaquim das Neves, que se ofereceu a levá-lo ate o forte do castelo, mas não aceitou, saiu por dentro dos quintais ate que entrou no quintal de Geraldo José de Abreu (que fora presidente da junta na adesão do Pará à independência). Após beber um copo de água despediu-se dizendo: - adeus, vou seguir o mesmo caminho do coronel Santiago. Saiu a rua e se misturou aos cabanos, por ter muitos cabanos que vieram do interior, não o reconheceram. O presidente chegou ate a porta e La gritou: patrícios, se a pátria está em perigo, aqui tens um soldado para defenda-la! Foi ovacionado, mas João Aranha exclamou aos berros: -La vai o “malhado” era o apelido de Lobo de Sousa entre os seus adversários, devido a uma mecha de cabelos brancos. Lobo tentou subir a escadaria, mas foi alvejado por um tiro pelo Tapuio Domingos Onça.
Após conquista o povo passou a saquear tudo, sendo que lhes acalmaram informando que Clemente Malcher já viria assumir a presidência, este que estava preso na fortaleza da Barra. Malcher desceu as 11:00h da manhã no palácio, sendo aclamado, a seguir nomeou seus auxiliares: comandante das armas, Francisco Vinagre etc.
A revolução eclodiu no Pará no dia 7 de janeiro, sendo a primeira na América Latina, e única no Brasil, em que o povo realmente assumiu o poder, afirma o historiador e pesquisador Carlos Roque, em sua obra “Cabanagem: epopéia de um povo”. Ele diz que, entre as causas da revolução, a frustração nacionalista após a adesão do Pará à Independência do Brasil em 1823. “Embora aderindo ao império brasileiro, o paraense continuou afastado das decisões políticas, e o poder continuou concentrado em mãos dos conservadores, ou seja, daqueles que vinham explorando o Pará desde os tempos do Brasil Colônia”, diz o pesquisador. Carlos Roque afirma que a Cabanagem foi uma explosão nativista, uma espécie de frente política que congregou os insatisfeitos burgueses nacionalistas que “queriam a sua fatia do bolo econômico”, os militares que desejavam escalar postos maiores; os políticos que queriam a sua vez; os sem-terra que ansiavam por terra; os índios e mestiços, que guardavam ódio contra os dominadores desde os tempos da conquista, os negros escravos que almejavam por liberdade, dentre alguns líderes populares da Cabanagem esteve o negro Manuel Barbeiro, o negro liberto de apelido Patriota e o escravo Joaquim Antônio, que manifestavam idéias de igualdade social. Para Roque foi compreensível que, após a vitória, esses grupos entrassem em choque entre si, pela heterogeneidade de classes, e de interesses”. Os líderes da Cabanagem que se destacaram foram os irmãos Antônio e Francisco Vinagre e o cônego João Batista Gonçalves Campos. De Belém, a revolta irradiou-se por todo o interior amazônico, pois naquela época toda a Amazônia era Província do Pará.

A PRÉ CABANAGEM
Os antecedentes como o massacre, e trágico episódio da morte de mais de 250 militantes de uma revolução contra o avanço das idéias nacionalistas no Pará, no porão do brigue “Palhaço”, em 1823, são antecedentes factuais que fagulham os ânimos antes da eclosão da Cabanagem.
Sem solução pacífica, o imperador dom Pedro I enviou a Belém o comandante inglês John Grenfell para impor o imperialismo na região. Ao chegar à Baía do Guajará, o comandante inglês arquitetou um plano para vencer os militantes, que mantinham muito armamento. Ele comunicou, então, que trazia uma poderosa esquadra capaz de bombardear e destruir grande parte capital paraense. Apesar da resistência, a notícia dividiu opiniões entre as autoridades militares, civis e eclesiásticas. A polêmica foi resolvida numa votação fechada no Palácio do Governo, resultando na Adesão do Pará ao novo regime imperial, no dia 15 de agosto de 1823.
Desmascarado o plano do comandante Grenfell, começaram as manifestações dos adversários e da própria população, contra a recém-instalada Junta Provisória, acusada de manter no poder os comerciantes e latifundiários portugueses. Diante dos conflitos, Grenfell aprisionou 256 suspeitos, por tempo indeterminado, no porão do brigue “Palhaço”, comandado pelo tenente Joaquim Lúcio Azevedo. Os prisioneiros gritavam por água limpa e espaço para respirar. Os soldados jogaram cal virgem no porão, matando 252 pessoas por asfixia. O ocorrido ficou conhecido como a “Tragédia do Brigue Palhaço”.
Após a Independência do Brasil, a Província do Grão-Pará mobilizou-se para expulsar as forças reacionárias que pretendiam manter a região como colônia de Portugal. Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacaram-se as figuras do cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Clemente Malcher. Terminada a luta pela independência e instalado o governo provincial, os líderes locais foram marginalizados do poder. A elite fazendeira do Grão-Pará, embora com melhores condições, ressentia-se da falta de participação nas decisões do governo central, dominado pelas províncias do Sudeste e do Nordeste.
O 31 DE JULHO - Em julho de 1831 estourou uma rebelião na guarnição militar de Belém do Pará, tendo Batista Campos sido preso como uma das lideranças implicadas. O presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, desencadeou uma política repressora, na tentativa de conter os inconformados.
A IMPRENSA - O primeiro grande erro de Lobo de Sousa foi rivalizar com Batista Campos. Criando o Correio Oficial Paraense, dirigido pelo cônego Gaspar Siqueira Queiroz, grande inimigo de Batista Campos. As críticas contra o nacionalista logo começaram, e aumentavam a cada edição. Batista Campos também começou a lançar suas críticas, contra o governo. Conseguiu, inclusive, uma pastoral do bispo D. Romualdo Coelho contra Lobo de Sousa, pelo fato deste ser maçom. Nesta altura, chegava ao Pará o jornalista Vicente Ferreira de Lavor Papagaio, mandado buscar no Maranhão por Batista Campos. Aquele vinha fundar um jornal para fazer oposição à Presidência da Província. O título do jornal, Sentinela Maranhense na Guarita do Pará. Sua linguagem, logo na edição inaugural, foi tão violenta, que Lobo de Sousa ordenou a prisão de Papagaio e Batista Campos.
A PRISÃO E MORTE - O clímax foi atingido em 1834, quando Batista Campos publicou uma carta do bispo do Pará, Romualdo de Sousa Coelho, criticando alguns políticos da província. O cônego foi logo perseguido, refugiando-se na fazenda de seu amigo Clemente Malcher, reunindo-se aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e Antônio) e ao seringueiro e jornalista Eduardo Angelim. Antes de serem atacados por tropas governistas, abandonaram a fazenda. Contudo, no dia 3 de novembro, as tropas conseguiram matar Manuel Vinagre e prender Malcher. Batista Campos morreu no último dia do ano, ao que tudo indica de uma infecção causada por um corte que sofreu ao fazer a barba.
OS GOVERNOS CABANO - Em 7 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico. O governo cabano não durou por muito tempo, pois o novo presidente, Félix Malcher - tenente-coronel, latifundiário, dono de engenhos de açúcar - era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, é deposto em 19 de fevereiro de 1835. Por fim, Malcher acabou preso. Assumiu a Presidência, Francisco Vinagre.
Em maio de 1935 chegou ao porto de Belém a fragata “Imperatriz”, enviada pelo presidente do Maranhão, a fim de terminar com o Governo revolucionário. Vinagre concordou em entregar a Presidência a Ângelo Custódio; mas, sobre pressão de Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, recuou. Em 20 de junho de 1935, na baía de Guajará, aportou outra fragata com o novo presidente do Pará (nomeado pela Regência), marechal Manoel Jorge Rodrigues. Vinagre, contra o desejo de seu irmão Antônio, entregou o poder.
Na noite de 14 de agosto de 1835, tiveram início novos combates. A invasão de Belém se deu pelos bairros de São Braz e Nazaré. Desta forma, Belém caía novamente em poder dos revoltosos. Aos 21 anos de idade, Eduardo Angelim assumiu a Presidência da Província.
O FIM DA CABANAGEM - Contudo, em abril de 1836 chegava o marechal José Soares de Andrea, novo presidente, nomeado pela Regência. Andrea intimou os cabanos a abandonarem Belém. Angelim e seus auxiliares concordaram.
A última fase da Cabanagem é iniciada com a tomada de Belém por Andréa, com o restabelecimento da legalidade na Província. Apossando-se de Belém, as lutas ainda duraram quatro anos no interior da Província, onde ocorria o avanço das forças militares até 1840.
Para vários escritores e historiadores como Roque a revolta terminou em 1840. Ao todo, ficou um saldo de 30 mil mortos, um quarto da população amazônica da época. “Mas deixou, como saldo positivo, a quebra do monopólio mercantil e a perda de controle político por parte dos conservadores e o desbaratamento do sistema escravagista do Pará”.
Os atores políticos envolvidos na Cabanagem vinham das mais diferentes origens sócio-econômicas: grupos indígenas, tapuios e escravos; membros das tropas, do clero e das lojas maçônicas; latifundiários e proprietários brancos e escravistas, como os três presidentes cabanos, Félix Malcher, Francisco Vinagre e Eduardo Angelim; intelectuais ilustrados como, por exemplo, Felipe Patroni, que, em 1821, levou ao Grão-Pará sua primeira tipografia, para editar o jornal O Paraense, em defesa da independência e o cônego Batista de Campos, que também editou o jornal e fez ampla difusão de idéias libertárias na província. Mesmo com a evidente pluralidade de origens e interesses dos participantes da Cabanagem.

OS 50 DIAS DO GOVERNO MALCHER
Malcher visualizava o clímax da luta cabana nos episódios do 7 de janeiro de 1835, em nome de Pedro II, Malcher foi aclamado pelo povo para governar o Grão-Pará durante a menoridade do Imperador. Era a lei da “bravura” e do “patriotismo” contra o despotismo regencial carioca, considerado similar ao antigo jugo português. Como o poder que elegeu Malcher, emanava do povo, sua vontade seria a mesma da coletividade que o aclamou, devendo o povo beligerante voltar para suas casas e retomar as atividades agrícolas”. Para Malcher a luta se havia encerrado no dia 7 de janeiro de 1835, para a maioria cabana isto não era consenso.
No primeiro assalto a Belém foram mortas as principais autoridades que simbolizavam esta luta antiportuguesa e antimaçônica, especialmente o Presidente da Província, Bernardo Lobo de Souza, e seu Comandante das Armas, Joaquim José da Silva Santiago. Além destes, morreu ainda um último estrangeiro: o Comandante do Porto e da esquadra da Marinha Imperial, James Inglis.
OS ATOS - Malcher efetivou a demissão em massa dos antigos funcionários, nomeando novos nomes de “sua confiança”. Malcher continuou o projeto administrativo, demissão em massa os antigos funcionários, nomeando novos de sua confiança e aumentou o salário. Malcher garantiu proteção aos comerciantes portugueses que abrissem as portas de seus estabelecimentos, à exceção dos lugares em que se vendiam bebidas, mas proibindo-os de vender suas propriedades para evitar investimentos no exterior. Estas atitudes de Malcher desagradou, tanto os portugueses como o povo cabano, pois os comerciantes portugueses, inimigos dos cabanos permaneceriam no Pará, enquanto os comerciantes portugueses que tinham grandes investimentos preocupados com a falta de instabilidade econômica pretendiam vender suas propriedades, mas não podiam.
AS DIFICULDADES - Os problemas aumentavam com o bloqueio econômico com o restante do país, a região ficava isolada, os primeiros sintomas a ser percebido foi a resistência dos soldados milicianos que se agitavam exigindo soldos que estavam atrasados. O CARIMBO DO PARÁ – a única solução foi Malcher utilizar moedas que já estava em desuso, ou seja, tinham sido usadas no período colonial. O presidente mandou reutilizar antigas moedas de cobre, chamadas de “Cuiabá”, as quais o governo Imperial ordenara que fossem retiradas de circulação e remetidas imediatamente para a Corte. Contrariamente a esta ordem, Malcher revalidou a moeda com o carimbo do Pará, reduzindo-a a quarta parte de seu valor. Estas moedas geraram duvidas, pois estavam fora de circulação no resto do Brasil.
Mesmo assim não foi suficiente para resolver a falta de remunerada a funcionários. Portanto, propensa ao motim, uma parte dos funcionários e, os soldados das tropas de linha se rebelaram, pedindo ajuda ao Comandante das Armas, Francisco Vinagre, que iniciou uma perigosa luta branca contra Félix Clemente Malcher.
O BLOQUEIO MARITIMO - Malcher determinou a invasão à residência do cônsul francês no Pará, o senhor Diniz Crouan, pensando que tinha refugiados do antigo regime, mas não localizou nenhum de seus principais suspeitos. Iniciou um problema com o governo francês. Este incidente iniciou pendência diplomática, a França reagiu a partir de sua colônia nas Guianas, invadindo no atual território do Amapá e mandando navios para frente da baía do Guajará, em Belém. Não eram apenas os franceses que estavam ancorados em frente a Belém. Ali também estavam tropas inglesas e portuguesas, que, com a desculpa de defender seus súditos em território paraense, aguardavam o desenrolar dos acontecimentos para uma possível aliança com os cabanos e anexação da Amazônia ao seu território Ao mesmo tempo, os cabanos sofriam pressões internacionais e mantinham vínculos com o regime constitucional carioca, especialmente com o Imperador menino, Pedro II.
O PERFIL DE FÉLIX CLEMENTE MALCHER - era natural do município de Monte Alegre, mas adotou como centro de ação política a região do Acará, onde se concentrava a maior parte dos engenhos de cana-de-açúcar e de escravos africanos no Pará. Tornou-se um membro da família Henriques. Sua esposa, D. Rosa Maria Henriques de Lima, era filha de um dos mais abastados fazendeiros na região do Acará, herdeiro de sesmarias e descendente de conquistadores portugueses do rio Amazonas. No ano de 1820, emancipação política no Brasil e no Pará, Malcher se tornou militante e líder liberal, fez parte das milícias e na política local. De 1823 a 1824, saiu de Porta-bandeira para se tornar Tenente-Coronel da mesma corporação. Tornou-se vereador em Belém, e aliado do cônego Batista Campos, líder liberal conhecido e redator do popular periódico local, O Paraense que morreu, nas terras dos Henriques e de Malcher.
Em 1834, Malcher foi preso em sua fazenda no Acará, um pouco antes de 7 de janeiro de 1835. Foi nesta fazenda que conheceu Eduardo Francisco Nogueira, ou Eduardo Angelim, e foi seu patrão era agregado da família de Malcher. Também os irmãos Vinagre vinham da mesma região e eram pequenos proprietários no local.
Todo este passado, somado à prisão a que fora submetido pelo Presidente da Província, Bernardo Lobo de Sousa, credenciava Malcher à liderança do movimento cabano. Durante a primeira tomada de Belém, em 7 de janeiro, os atos revolucionários concentraram-se em libertar Malcher da prisão, matar e perseguir os inimigos do tronco liberal a que Malcher pertencia, especialmente Lobo de Sousa e seu Comandante das Armas, Joaquim Santiago.
MALCHER X VINAGRE – os conflitos entre Malcher e Vinagre se acirravam. No dia 9 de fevereiro de 1835, Malcher demitir Francisco Vinagre e acabou gerando um conflito de rua, no qual os partidários de ambos os lados se indispuseram e quase iniciaram uma luta armada. O que estava em jogo na disputa pela liderança local era algo central ao debate sobre a representatividade da liderança cabana. No debate acalorado e conflituoso, Francisco e Antonio Vinagre lembravam a Malcher que ele era presidente por aclamação popular, se o finado Lobo de Sousa vinha investido pela Regência em nome do Imperador, Malcher não tinha a mesma unção. Sua liderança vinha da aclamação e só se sustentava enquanto ele estivesse sob este movimento. Para os irmãos Vinagre e seus partidários, Malcher traia sua aclamação e sua investidura popular “divina”. Malcher, respondeu: - que não admitia o juízo da tropa e nem do povo e não iria manter Francisco Vinagre no cargo de Comandante das Armas por não se de sua confiança. Na seqüência, Malcher desembainhou sua espada a Francisco Vinagre, contido por Antonio Vinagre, que lhe susteve o braço.neste exato momento, um partidário de Francisco Vinagre tentou atirar contra Malcher, mas Eduardo Angelim salvou-o.
O fato que fazia despencar a popularidade de Malcher, foi a prisão de Eduardo Angelim, que era um líder popular e carismático, alem de amigo de Francisco Vinagre.
Malcher foi recuando até ter que se retirar de terra firme e fixar-se na esquadra da marinha Imperial, que se encontrava em frente de Belém, recém-chegada do Maranhão.
FRANCISCO VINAGRE O NOVO PRESIDENTE - Depois de ter sido preso e remetido para um navio imperial atracado em Belém, Angelim foi libertado por Malcher e voltou à terra firme para tentar um acordo de paz com Vinagre, no dia 21 de janeiro. A idéia era entregar a presidência ao membro mais votado do conselho do governo, ou a quem o povo reunido designasse.
Angelim falou com Francisco Vinagre e este último mandou logo cessar fogo. Em seguida, mandou fazer reunir o Conselho de Estado Provincial que teria aclamado Vinagre como novo presidente, com a ata que revogava a de 7 de janeiro de 1835. Vinagre comunicou à Regência que permaneceria no poder até que ela fizesse nova nomeação. Vinagre já tinha tentado sua aclamação no dia 20 de janeiro, pela Câmara de Vereadores. Os vereadores desapareceram e o presidente se dizia doente. Muitos confirmavam que Vinagre já se considerava aclamado. Reatavam-se os laços mais estreitos com a Regência imperial, na medida em que dava ao Regente, poderes para nomear o próximo Presidente da Província do Pará.
De fevereiro até agosto de 1835, Francisco Vinagre governaria Belém, sempre lembrando que estava à espera de leis e ordens do Império e de Pedro II. Na metade do ano, Vinagre resolveu deixar o governo diante do emissário carioca, o Marechal Manoel Jorge Rodrigues. Foi feita uma eleição e esperavam que o candidato mais votado para a Assembléia provincial fosse provisoriamente empossado como presidente, como rezava a constituição Imperial. Vinagre queria o padre Jerônimo Pimentel. Mas, por poucos votos, Ângelo Custódio elegeu-se, ao ser o mais votado.
Custódio fez resistência anticabana, principalmente em Cametá que era sua sede eleitoral. Apesar da tensão e dos protestos da massa cabana em Belém, Francisco Vinagre manteve sua palavra e a cidade de Belém foi evacuada em agosto de 1835, Belém foi novamente tomada pelos cabanos. O motivo para esta nova investida estava numa ordem de prisão que o Marechal Rodrigues deu contra Francisco Vinagre.
Eduardo Angelim
Com a prisão de Francisco, seu irmão Antonio reuniu tropa para voltar a Belém, em luta armada. Antonio Vinagre foi morto em combate e Eduardo Angelim assumiu seu lugar em plena luta. Eduardo Angelim deu ao seu discurso de “posse” um tom religioso e, mais do que nunca, pautado na hierarquia e na ordem constitucional, que foi sempre a sua marca.

A SACRALIZAÇÃO DA CABANAGEM
A carestia era grande, a santa igreja, através do bispo D. Romualdo Coelho e dos padres Francisco de Pinho de Castilho, Raimundo Antonio Fernandes e Jerônimo Pimentel fazia discurso de apoio ao movimento na intenção de encorajar a massa à resistência, mas estes entravam na cidade roubavam os armazéns, dificultando cada vez mais a vida na cidade. No meio deste caos, chegou as pestes, como a varíola, que dizimou muitos cabanos, inclusive o Comandante das Armas de Angelim, parecia uma premonição igual da idade media e da fuga do povo do Egito, através de Moises.
Angelim teria mandado matar, surrar ou prender escravos e homens livres pobres e tapuios que teriam cometidos furtos ou desinteligência. Angelim teve que tomar atitudes antipáticas para manter a governabilidade, mas que o obrigou a fugir. Angelim esperou o horário da chuva com grandes trovoadas, tempestades, banzeiros. Assim atravessou a baía do Guajará, passando sem ser visto pelas tropas imperiais e das embarcações estrangeiras que por ali estavam fundeadas, pois sabia Angelim que os inimigo fundeados, sofriam de pavor, pelo imaginário lendário, carregados de sinis




BELÉM SITIADA -
Belém mais parecia com tróia, ou seja, estava sitiada. Seus principais guerreiros não conseguiram desmontar o monstruoso esquema de segurança, que tinha como estratégia a tática do confinamento e asfixia, ou seja, morte súbita por insuficiência interna, diferente do trágico brige “palhaço” que serviu de estopim para o desdobramento que se processou para a cabanagem. Agora os inimigos usaram da intelectualidade, portanto usando a força dos próprios cabanos para sua autodestruição, se degenerando por migalhas do poder que esta intrínseca a seres de qualquer espécie animal. Quando a regência percebeu que estava na hora do golpe fatal, se não correria o risco e poderia perder o poder político e espacial para outros países que também se faziam presentes nos camarotes.
A “EUTANASIA” – o governo central no Rio de janeiro, mandaram em março de 1836, o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa como novo presidente do Grão-Pará, autorizando a guerra total contra os cabanos. Em fevereiro, quatro navios de guerra se aproximavam de Belém, prontos para atacar a cidade, tomada pela desordem, fome e varíola. No dia 13 de maio de 1836, o brigadeiro d'Andrea estacionou sua esquadra em frente a Belém e bombardeou impiedosamente a cidade. Os cabanos mais parecidos como trapos humanos do que insurgentes fugiam pelos igarapés em canoas a remo, enquanto Eduardo Angelim e alguns líderes fugiam.
O brigadeiro d'Andrea, sabia que mesmo foragido Euardo Angelim, seria uma ameaça, mandou caça-lo, vivo ou morto, mas seria melhor vivo, para não se transformar em um martir ou heroi (cristo), e consequentemente impulsionar outro movimentos. Em outubro de 1836, foi encontrado numa tapera (casa abandonada) da selva, ao lado de sua mulher, Angelim foi capturado e preso na fortaleza da Barra, até seguir para o Rio de Janeiro. Assim terminava um fato que incendeia “geneticamente” os paraenses
Os elementos como fome, peste e carestia, reforçam a comparação entre a fuga de Angelim e a de Moisés do Egito. A interpretação da massa cabana era religiosa, mas que não deixava de ser material e concreta, pois, o sentido da guerra era moral e religioso, esta mesma idéia só se compreendia quando relacionada com a vivência revolucionária concreta da massa cabana. General Andréa fez pedido ao governo central, para que trocasse os soldados, pois todos os homens de cor nascidos aqui estão ligados em “pacto secreto”, a “darem cabo de tudo quanto for branco”. E Andréa enviou centenas de recrutas, mas também trocou líderes cabanos sobreviventes por outros, vindos especialmente da Bahia e de Pernambuco.
O MONUMENTO DE ANDREÁ - Na Praça Dom Macedo Costa, Localizado na TV Garpar Viana, ao lado do colégio Santo Antônio, Bairro Campina. Antigo nome: largo de Santo Antônio o centro da praça existe um medalhão de bronze que homenageia o marechal legalista Francisco José de Souza Soares de Andréa, que presidiu a província do Pará de 1836 a 1839.
As chamas do espírito cabano espairou por todo território da Amazônia, como Manaus, Macapá, rio madeira e etc., o sonho da liberdade com a terra prometida não morreu com a imposição de Andreas e outros governos que vieram. Andreas usou a força de trabalho dos presos e suspeitos de cabanagem para formar “os corpos de trabalhadores”. os responsáveis pela reconstrução produtiva do campo e das cidades no pós-cabanagem, abrindo caminho para a tão comentada época da borracha na Amazônia.
Para entender o significado político e ideológico das ações das lideranças cabanas na Província do Grão Pará, devemos compreender as dimensões políticas e as relações simbólicas destes nas suas relações com a massa cabana. Vários autores refletem suas idéias reverbarizando as assimetrias literarias sobre a cabanagem. Os livros são leituras ideológicas do movimento cabano com interpretações valorativas que são espelhos que refletem pouco além da imagem do observador. Portanto, a concretude dos fatos poderá cada vez mais se aproximar da múltipla realidade do contexto que emite um prisma de matizes, que facilitará o entendimento de um período que idéias se construíam e convulsionavam as mentes e corações de intelectuais, mas independente das epistemes filosófica, vários atores no contexto da cabanagem “turbaram” contra a ganância e arrogância local.
A realidade conflituosa da Cabanagem é apenas compreensível no evidenciar de suas próprias contradições internas. A totalidade do movimento é um conjunto aberto e tenso que não pode ser esclarecido a partir das noções de unidade generalizada estabelecidas a priori.
Elencamos vários autores para perceber as diferentes “conjecturas” sobre os os fatos e atores que dinamizaram a cabanagem de 1835 a 1840. Entre tantos não temos a tutela de chamar de mais importantes, porque tantos outro não são tão divulgados ou quem sabe guardam a sete chaves, e outros estão sendo escritos. Mas, Domingos Antonio Raiol (Motins Políticos 1865 -1890); Júlio José Chiavenato (Cabanagem: a revolução popular); Jorge Hurley (traços cabanos 1936); Arthur C.F Reis, (História de Óbidos 1941); Caio Prado Júnior (1930); Ricardo Guimarães (A Cabanagem – a revolução no Brasil 1977); Vicente Salles (Memorial da Cabanagem e O Marxismo, socialismo e os militantes excluídos); Décio Freitas (A miserável revolução das classes infames); Carlos Rocque (Cabanagem Epopeia de um povo 1984); Carlos Arruda (Cabanos! Novela Histórica); Mario Médice Costa Barbosa (o povo cabano no poder: memória, cultura e imprensa em Belém – Pa. 1982 – 2004 Dissertação de mestrado PUC – SP, 2004); Magda Ricci (Cabanagem, cidadania e identidade revolucionaria: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840 UFPA); Leandro Mahalem de Lima (Presenças indígenas na Cabanagem. Proposta metodológica para a compreensão de suas participações diferenciadas USP); David Cleary (cabanagem documentos ingleses).
Domingos Antônio Raiol
No clássico, Motins Políticos, de Domingos Antônio Raiol (1970), escrito em cinco tomos entre 1865 e 1890, transmite as diferenças partidárias e institucionais intra-elites são o cerne do problema. As idéias e interesses passavam automaticamente da corte ao âmbito provincial, e os grupos atuantes apenas compactuavam com um dos lados em disputa. As ações dos “homens baixos” eram simplesmente um problema à defesa da ordem e das instituições, pois que a política deveria manter-se restrita às elites dominantes, que erraram por terem incluído o povo em problemas que não lhes pertenciam. Raiol procurava justificar a Cabanagem numa mistura entre a omissão inicial das autoridades Imperiais na Amazônia e seu pulso firme na repressão ao movimento de 1835.
Em Traços Cabanos (1936) de Jorge Hurley, membro do IHGP e principal representante das obras comemorativas do centenário da Cabanagem, a asseguração de direitos políticos e a afirmação da independência figuram como os principais aspectos do movimento. A criação da “identidade nacional” está no cerne de sua obra.
A exaltação do caboclo e do índio, notoriamente idealizados, como mártires e representantes da nacionalidade e, ao mesmo tempo, a paradoxal defesa da repressão do general Soares d’Andréa que, para ele, heroicamente conseguiu restabelecer a ordem e a paz na província, é apenas um dos traços ideológicos de seu trabalho. As ações dos “tapuios e mais gente estúpida do Pará” eram um problema a ser sanado, pois os verdadeiros anseios políticos só poderiam ser levados a cabo por líderes político-partidários que saberiam conduzir a província e realizar os anseios de todos.
Arthur C.F Reis, em História de Óbidos (1941), parte não por acaso desta vila do Alto Amazonas para apresentar sua interpretação acerca da totalidade da Cabanagem. Afinal, para ele, Óbidos, o principal reduto legalista nesta região, heroicamente conseguiu conter os “barbarismos” que haviam se disseminado amplamente pelo Grão-Pará. Esta vila era, para Reis, a principal representante do que era necessário à província: a manutenção da ordem e a contenção das ações desenfreadas dos selvagens.
Nos anos de 1920 e 1930, delinearam-se outras histórias e o movimento cabano foi ganhando outros sentidos. Houve quem o percebesse como uma guerra de Independência tardia, ou mesmo como um movimento nacionalista. Neste contexto, os cabanos deixaram de ser tratados como “malvados” e “sediciosos”, para se tornarem “patriotas”, conceito entendido como cidadãos adeptos da “causa brasileira”. Neste contexto, os cabanos deixaram de ser tratados como “malvados” e “sediciosos”, para se tornarem “patriotas”, conceito entendido como cidadãos adeptos da “causa brasileira”. Nascia uma linha positiva e de continuidade nacionalista entre o processo de emancipação política no Pará e o movimento cabano.
Na comemoração do centenário da Independência brasileira, os intelectuais na Amazônia e no Brasil reinventaram esta história pátria. Para eles, os cabanos apoiavam-se em um justo ódio racial aos brancos, que aumentava com uma má administração portuguesa de cunho colonialista.
Caio P. J
Nos anos 1930, nascia outra versão para a ação cabana, agora marcada por um posicionamento político-marxista. Caio Prado Júnior, de maneira precursora, atribuía aos cabanos da Amazônia do século XIX a prerrogativa de terem sido os únicos revolucionários populares e partidários de ideais libertários que conseguiram tomar o poder. Com este autor, os olhos da historiografia marxista no Brasil se voltaram definitivamente para o movimento de 1835.
Na década de oitenta, duas obras comemorativas do sesquicentenário da revolta se destacam: A Cabanagem: o povo no poder (1984) de Júlio José Chiavenato e Cabanagem: a revolução popular da ao estudo de Guimarães foi escrito dentro de um projeto cinematográfico que acabou não sendo concluído.
Embalados pela leitura crítica do movimento de Caio Prado Jr. (A Evolução Política do Brasil, 1933), realizam o que o historiador Balkar Pinheiro (1998) denominou de “redescoberta das massas”. Para Chiavenato, a Cabanagem foi a luta dos oprimidos contra as classes dominantes. Pela afirmação da unidade do povo em luta, as contradições entre os próprios rebeldes foram “encobertas” e não explicadas. A chegada ao governo de Malcher, Vinagre e Angelim, todos fazendeiros e escravocratas, que exaltavam o Imperador e a regência, e quando no poder realizaram inúmeras prisões e afirmavam não ter nenhuma relação com os “barbarismos”, foi vista por ele como a chegada do povo ao poder.
A luta dos oprimidos, ao final das contas, apenas não superou o despotismo pela falta de um projeto político Para Pasquale Di Paolo, embalado pelo liberalismo político, as lutas populares da Cabanagem centram-se numa nova consciência de ser cidadão, de ser povo. O anseio profundo do movimento era a criação de uma “nova sociedade”, fundada na cidadania dos filhos da terra. Ao tratar da derrocada e do próprio despotismo dos governos cabanos, o autor afirma que os populares não os aprovaram, pois seu desejo era a realização de uma democracia popular.
A motivação profunda do povo na Cabanagem era a independência política externa e a emancipação social interna; a rejeição da condição de súditos e a realização de si como cidadãos. Para Di Paolo, a Cabanagem foi o momento em que índios, mestiços, negros escravos e europeus semi-livres se uniram em torno da mesma bandeira: a brasilidade.
Os cabanos tornaram-se exemplos de rebeldes primitivos, o que foi seguido nas décadas de 1970 e 1980 Em 1978, Pasquale Di Paolo entendeu que o fenômeno da cabanagem exerceu uma importância enorme na formação do povo paraense nas homenagens de 150 anos da Cabanagem. Ricardo Guimarães, militante do PCB, escreveu seu estudo - A Cabanagem – a revolução no Brasil no ano de 1977, em plena ditadura militar.
Em uma versão mais atual, o livro de Guimarães sugestivamente reuniu o que seriam as duas maiores tentativas revolucionárias da esquerda do Brasil dos séculos XIX e XX: a Cabanagem e a Guerrilha do Araguaia, O estudo de Guimarães foi escrito dentro de um projeto cinematográfico que acabou não sendo concluído. Em 1978, foi publicado, em uma primeira edição, na revista Temas de Ciências Humanas, para, somente em 2000, ganhar uma nova edição em um livro que juntava uma análise sobre a Cabanagem com a atuação do PCB na Guerrilha do Araguaia.
Dois movimentos – temporalmente tão distantes – agregavam-se na militância da esquerda e na luta antiimperialista no Brasil. Para Guimarães, a Cabanagem explicava-se pela luta de classe, e seus líderes, paulatinamente, tornaram-se mais populares e revolucionários.
Nascia a idéia de uma consciência “possível” e outra “ideal” para os cabanos. A “possível” atrelava-se a uma luta secular que estes empreenderam contra a exploração colonial, alicerçando-se no “patriotismo” e no “anticolonialismo”. Estas duas bandeiras abreviavam-se nos argumentos de algumas lideranças máximas, que conduziam as massas revolucionárias. Por este raciocínio, a consciência política “ideal” para os cabanos devia ser localizada em seus projetos políticos.
O movimento de 1835 ressurgia 150 anos depois como uma luta legítima contra esta hegemonia imperialista. Em plena época da reabertura política ou de guerra aberta contra o regime militar imposto em 1964, estes pesquisadores buscavam no passado cabano um símbolo inicial de afirmação e de luta por cidadania. Em 1835, era o imperialismo português e britânico, em 1985, o norte-americano e liberal.
Vicente Sales
Nos últimos anos, foram difundidas outras convenções “colonização” no Pará e na Amazônia cabana. O “tráfico das idéias”, vindo pelas Guianas e pelos Andes, os debates são de e Vicente Salles. Linha marxista que estão os estudos de Vicente Salles, especialmente o “Memorial da Cabanagem” e “O Marxismo, socialismo e os militantes excluídos”; na mesma linha Décio Freitas escrevia “A miserável revolução das classes infames”.

OS PÓS GOVERNOS CABANOS
Magalhaes Barata

E para analisar os reflexos transcendentais da cabanagem faremos um dialogo com o professor e mestre de história Mário Médici Costa Barbosa com exceção de Magalhães Barata. Podemos citar três gestores públicos que se apropriaram da cabanagem a relacionar a seu governo como heróis do povo, são eles: o governador Joaquim Cardoso Magalhães Barata (Belém, 2 de junho de 1888 — 29 de maio de 1959); Jader Barbalho foi vereador, senador, deputado, governador e ministro; edmilson Rodrigues, foi prefeito de Belém do Pará, duas vezes e deputado estadual por três vezes.
MAGALHÃES BARATÁ O 4 º GOVERNO CABANO - relação da luta dos cabanos foram interligadas com outros eventos, o governador Barata em 1930, patrocinou o IHGP, mas que ligasse a revolução de 1930, no Pará com a cabanagem exaltando no passado e no presente o fim das oligarquias e as vantagens de um governo populista. Foi interventor federal no Pará, de 12 de novembro de 1930 a 12 de abril de 1935. Eleito senador em 1945, Barata perdeu a eleição para o governo em 1950 para o general Alexandre Zacharias de Assumpção. Retornou em 1950. Morreu no exercício do cargo em 1959.
JADER BARBALHO O 5º GOVERNO CABANO
J. Barbalho
Na década de 1980, Jader barbalho assume o governo do Pará, já nos fins da ditadura, e este se apropria e se auto denomina como quarto governo Cabano, tanto que criou o memorial todo em concreto, com uma inclinação acentuada apontando para um ponto sem fim, representando a história. Tem no meio uma ‘fratura’. Um pedaço do monumento que jaz no chão, representando a ruptura do processo revolucionário da cabanagem, a sua derrocada. Mas como a cabanagem continua viva na memória do povo paraense, o bloco continuará subindo para o infinito. Tem 15 metros de altura e 20 de comprimento. O museu-cripta que abrigaria os restos mortais de Batista Campos, Eduardo Angelim, Francisco e Antônio Vinagre e de Clemente Malcher, conterá cinco criptas e um vitral da artista plástica italiana Marianne Perretti.
Memorial Cabanagem
O Memorial da Cabanagem, segundo a concepção de Nyemeyer, representa a luta heróica do povo cabano, que foi um dos movimentos mais importantes de todo o Brasil. A rampa elevada em direção ao firmamento representa a grandiosidade da revolta popular que chegou muito perto de atingir seus objetivos e a "fratura" faz alusão à ruptura do processo revolucionário. Mas embora tenha sido sufocada.
CARLOS ROCQUE - O munumento foi idealizado pelo historiador Carlos Rocque e o governador do Pará, Jader Barbalho, em 1983, Através de Adalberto Neno, Rocque entrou em contato com Oscar Niemeyer. Em 30 de janeiro de 1984, aconteceu, em Brasília, a reunião entre Jader e Niemeyer. Jader agradeceu a participação do arquiteto no projeto e afirmou ser uma honra para o estado do Pará abrigar uma obra desse grande arquiteto. Oscar Niemeyer, disse que a honra era toda sua em participar dos festejos em homenagem aos cabanos e que, por isso, nada cobraria pelo projeto. Era a sua doação ao povo paraense. O terreno no entroncamento, onde se planejava construir o memorial, pertencia a DNER que desejava construir três viadutos no local. O prefeito, Almir Gabriel, assinou o contrato que passava a administração do terreno à prefeitura de Belém.
Oscar Niermeyer
OSCAR NERMEYER - Em 18 de maio de 1984, Niemeyer terminou o projeto. No dia 12 de junho, a maquete foi mostrada à imprensa. Faltava localizar os restos mortais dos líderes cabanos que deveriam ser transportados para a cripta. Carlos Rocque, o jornalista Orly Bezerra e o fotógrafo Dirceu Fornejo foram a Barcarena atrás dos corpos de Batista Campos e Eduardo Angelim. O padre Batista Campos fora sepultado numa pequena urna de mármore no altar-mor da Igreja de São Francisco Xavier. Angelim, na capela do engenho de Madre de Deus na Ilha de Tramboica. Os restos mortais de Eduardo Angelim foram localizados apenas quatro dias antes da cerimônia de inauguração do memorial.
Antônio Vinagre havia sido enterrado na Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Campina; Francisco Vinagre, no Cemitério da Soledade e Clemente Malcher, no Convento do Carmo. Mas os restos desses três últimos não foram encontrados. Assim, em suas urnas estavam um pouco de terra dos lugares de sepultamento. Eram “cinzas simbólicas”. Um ano depois, em 1986, foi inaugurado o museu-cripta.
A inauguração foi no dia sete de janeiro de 1985. O início foi na Praça Pedro Teixeira, cais do porto de Belém. Policiais Militares descem do navio da Marinha de Guerra com duas urnas contendo os restos mortais do padre Batista Campos e de Eduardo Angelim. No porto, mais três líderes cabanos: Antônio Vinagre, Francisco Vinagre e Felix Clemente Malcher.
As urnas foram levadas pelas ruas da cidade no carro dos bombeiros enquanto os cavalarianos da PM cercavam o veículo. Com as sirenes ligadas, os batedores da PM seguiam à frente do cortejo. O jornalista Carlos Rocque anunciou: “150 anos depois, os cabanos voltaram a invadir a Belém. Todos eles, os milhares sem nome, representados pelos cinco maiores líderes que acabaram de ser inumados”.
O “CAUDILHEIRO” QUINTINO 
Quintino

No dia da inauguração do memorial, uma grande quantidade de manifestantes protestava no mesmo local, devido à morte de Armando de Oliveira Silva, vulgo Quintino, uma espécie de “cangaceiro” do interior do Pará, que os cientistas sociais associam ao bandido social descrito por Hobsbawm em que o modelo é “Robin Hood”. O jornalista responsável pela construção do memorial da cabanagem, Carlos Alberto Rocque, comparou Quintino a um “bandoleiro”. Este escritor com incrível anacronismo seguiu o mesmo discurso do escritor Antônio domingos Rayol, no seu livro “Motins Políticos”.

OS MANIFESTANTES - relacionavam à luta dos cabanos à luta da reforma agrária representada por Quintino. A policia militar reprimia com violência o ato, enquanto o grupo gritava ‘companheiro Quintino, você esta presente’. Os manifestantes suspendiam faixas (A luta dos cabanos continua. Quintino vive. Reforma agrária já!) e panfletavam.
O JORNAL LIBERAL - do mesmo dia criticava a manifestação, não aceitando a comparação de um “gatilheiro” com os cabanos, mas fazia menção à falta de atitude justa do governo.
O DEPUTADO FEDERAL ADEMIR ANDRADE - Este mesmo jornal divulgou uma nota de repúdio do Deputado Federal Ademir Andrade, das contradições do governo Jader Barbalho do ato cívico ao assassinato de Quintino morto pela força pública do estado. “De que vale a homenagem que se pretende fazer aos revolucionários cabanos quando ao mesmo tempo se faz uma caçada humana, a alguém que, por circunstancia, tomou para si da defesa de milhares de trabalhadores oprimidos”.
LÚCIO FLÁVIO PINTO - O fato estava relacionado à questão social da injusta divisão de terra e que foi denunciada pelo jornalista Lúcio Flavio Pinto – “O governo esta enterrando um cadáver e desfraldando uma bandeira. É o preço quando não se resolve o problema em sua causa.
Jader Barbalho quis unir os dois fatos a realidades distantes, tentando dar uma continuidade, escamoteando a realidade social nas divergências de Estado e sociedade encurralada ainda pela ditadura vigente que se camuflava no partido de Jader que existiu no bipartidarismo como permissionista. Como avaliou Karl Marx – “a história nunca se repete e quando tentam é uma tragédia em farsa”.
Enquanto Jader Barbalho se promove o “quarto Governo cabano”, se auto-convencendo pela concepção do arquiteto modernista Oscar Niemeyer, em que “o monumento, representa a luta heróica do povo cabano”, com a homenagem aos baluartes do movimento. Apesar de Vicente Sales em sua obra: - “O Negro no Pará”, ressalta que a cabanagem foi um movimento revolucionário popular por princípios ideológicos na cidade, mas que esteve no campo como luta de classe.
Este Governador Barbalho manda a polícia militar do estado do Pará confrontar com Quintino, um líder que segue os princípios norteadores da luta daqueles que morreram na cabanagem por serem expropriados dos seus direitos e, de que a luta dos posseiros perseguidos era resistência aos mais degradados meios de exploração e aviltamento dos direitos civis, como direito a moradia melhores condições de vida. O mesmo Estado que mata no primeiro momento, em seguida aproveita e usufrui a bravura dos heróis, incorporando antropofagicamente o valor e as virtudes daqueles que não serão lembrados por não serem ídolos políticos.
Quintino dotado de alto grau de consciência da própria dignidade e que foi empurrado para a marginalidade por um Estado que deveria manter os seus direitos previstos na legislação do país, mas que se confundem, de um lado, empresas que empregam pistoleiros empunhando armas, como a bandeira da “democracia” e, de outro, lavradores com sentimento de justiça social, capazes de enfrentar a mentira com a exposição da própria vida. Enfrentaram carrascos protegidos pelo Estado, primeiro nas instâncias legais. Esgotados estes recursos resistiram com os mesmos métodos dos seus antagonistas.
PERFIL DE QUINTINO - Foi na Fazenda Cambará, que o lendário “caudilheiro” Quintino Lira iniciou sua luta em defesa dos trabalhadores rurais e contra os latifundiários do estado. Quintino foi assassinado em 1985 pela Polícia Militar do Pará, na gleba federal Cidapar, no município de Viseu, a mando de fazendeiros e políticos da época, que viam na resistência armada dos trabalhadores rurais uma grande ameaça a seus interesses. A luta encabeçada por Quintino teve como consequência a desapropriação da fazenda Cidapar, pelo Incra, seguida da criação do maior projeto de assentamento da América Latina. Quintino chegou a ter o apoio de toda a população da área em que vivia.
EDMILSOM RODRIGUES O 6º GOVERNO CABANO 
Edmilson Rodrigues
Em 1997, a prefeitura de Belém, governada pelo Partido dos Trabalhadores, fez reviver mais uma vez a Cabanagem. - O prefeito Edmilson Rodrigues, seu governo era mais uma tomada cabana de Belém. Então este seria o sexto, ou seja, o quarto, porque este não considerava Magalhães Barata e Jader Barbalho como o quarto e quinto. Edmilson seria o “sucessor legítimo” do governo de Eduardo Angelim.
Edmilson na prefeitura de Belém fez virar moda os suvenir ligado a cabanagem, qualquer militante que não usasse algo sobre a cabanagem era um traidor. Edmilso fez uma serie de mudanças em Belém, tudo para que a capital do Pará se transformasse em um modelo capital da província do Grão Pará de 1835 a 1840. Vários equipamentos ganharam nomes alusivos a cabanagem como o sambódromo local, chamado de Aldeia cabana, ruas e bairros nasciam e mudavam de nomes. Os seus assessores (DAS) andavam nas ruas de chapéu de palha, alem dos militantes da força socialista (FS) tendência do então prefeito Edmilson Rodrigues, o seu secretario Stefani Brito da Secretaria Geral de Planejamento da Prefeitura Municipal de Belém (SEGEP) que coordenava as atividades do Orçamento Participativo (OP), chegou a criar um grupo que foi batizado de “Milícia Cabana”, inclusive participando da invasão do prédio da SEGUP, e fazer a segurança de eventos culturais da prefeitura como das assembléias do (OP).
O SANTO CABANO - A intensidade do envolvimento dos militantes foram tão forte que alguns deste não faziam distinção entre vida real (status quo) e idealismo (contexto histórico do personagem). Simbologias “psicodélicas” do real e do ideal acabaram transcendendo para o campo da psiquiatria em que um dos influentes militantes da FS, incorporou um dos lideres cabanos. Este caso começou a ser percebido nas atitudes deste militante na ocupação do terreno, na BR 316, Marituba (Pa), essa ocupação era chamada de “Che Guevara” e agora por incrível que pareça de “Almir Gabriel”.
Entre os vários confrontos que ficaram marcados entre Polícia Militar e “invasores” do terreno (hoje Almir Gabriel), um foi o cerco a uma guarnição da PM, em que um soldado ficou cego, atingido por um dos ocupantes, que agiam sob forte influencia dos apelos que se realizavam diariamente, através das assembléias e preleções que fomentavam os estímulos à resistência contra o Estado. Portanto, os “cabanos” (invasores do terreno e militantes da FS) deveriam se comportar como tais, para dar prosseguimento ao sonho que foi interrompido pelo presidente da província do Grão Pará o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa, que prendeu Eduardo Angelim em 1836. Ou seja, 160 anos depois, Eduardo Angelim incorporava em Edmilson Rodrigues que comandava Belem contra as forças reaconarias de Andréa que incorporava em Almir Gabriel que mandou matar os 19 “Sem Terra”, assim como os “camaradas” da Força Socialista, incorporado pelo povo cabano, que deveria resitir para o triunfo final dos cabanos.
Para este militante que ficou com problema psiquiatrico, O governador do contexto que era Almir Gabriel estava personificado na personalidade de Andréa com sua polícia, mais um determinante para este ódio: o governador Almir Gabriel foi o mandante do assassinato, em que a Polícia Militar execultou 19 Sem Terra, no dia 17 de abril de 1996, na curva do “S”, Municipio de Eldora do Carajás, no Sul do Estado Pará, ou seja, um ano antes de assumir o Prefeito Municipal de Belém, Edmilsom Rodrigues, prefeito cabano, que se autodenominava. Para o militante, isso nao era coincidência, mas sim, desígnisos e resultado historico da luta dos cabanos que deveriam resistir contra as forças do “ mal”, portanto, este deveria cumprir a sua obrigação de um revolucionario cabano.
O militante acometido de patologia mental era um próspero profissional de engenharia florestal, mas que infelismente apresentou este quadro, geralmente ele ficava correndo no quadrilatero do Bosque Rodrigues Alves (Almirante Barroso, Travessa Lomas Valentina, Rua 25 de Setembro (hoje Romulo Maiorana) e Travessa Parebebui), sempre vestido com uma fantasia: de um indio, de um tapuio, de Che Guevara ou de Eduardo Angelim e que corria atrás de pessoas que incucasse que fosse um inimigo. Certo dia este invadiu o gabinete da vereadora Marinor Brito que fazia parte da base aliada do Prefeito Edmilson Rodrigues e Força Socialista, e quebrou tudo, dizendo que ela tinha traido o movimento.
GUARDA MUNICIPAL DE BELEM 
Outro instrumento utilizado para homenagear a cabanagem foi a Guarda Municipal de Belém que impôs como seu patrono, Eduardo Angelim, mas por contradições do discurso, Edmilson Rodrigues demitiu 18 trabalhadores da Guarda Municipal de Belém, inclusive o presidente da entidade de classe, Associação dos Guardas Municipais de Belém (AGEMB), GD Moura, além dos diretores do sindicato dos Guardas Municipais do Estado do Pará (SINGMEP), sem contar com quase uma centena de suspensão por trinta dias e cortando os salários dos grevistas, a punição dos grevistas foram por seleção. E para piorar, o seu “comandante das armas”, ou seja, o comandante da Gbel, CMT Freitas que pertence aos quadros de carreira efetiva desta corporação, determinou que um grupamento de guardas que não aderiram a greve invadisse o quartel e retirasse nem que fosse a abala os rebelados, inclusive apontando os principais responsáveis pela “insubordinação”, os seus antigos companheiro de luta, que outrora fizeram greve juntos e foram punidos com demissão sumária pelo ex prefeito Hélio Gueiros. Então Freitas, exonera após a greve os seus dois ex companheiros: Agostinho e Esaú que de fato foram os grandes arquitetos da greve de 18 dias que durou em 2003, nos meses de junho e julho.

CABANAGEM SÍMBOLO DE RESITÊNCIA
Nos convence dialogar com o artigo da historiadora Magda Ricci da universidade Federal do Pará (UFPA), “Cabanagem, cidadania e identidade revolucionaria: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840”. A autora considera que a Cabanagem se tornou referência de símbolo e ação das mudanças e dos movimentos sociais. As entidades de classes, partidos políticos de estrema esquerda são “cabanos” sacralizando os rituais da Cabanagem. A imagem da cabanagem como Che Guevara, virou produto de consumo alienado para a indústria cultural, as camisas, botons, bonés etc., viraram designer de status, e corpo humano out dor. Mas que na sua grande maioria não conhecimento deste fato grandioso, que inclusive serviu de laboratório de pesquisa à distancia para Karl Marx.
A província do grão Pará, como no restante do país era um laboratório a céu aberto de idéias liberais, capitalistas, escravistas, monarquistas constitucionalista, absolutista, republicanistas, separatistas, nacionalistas, federalistas, democratas, militaristas e religiosos. Conflitos de múltiplas identidades e etc., essa movimentação envolveu, escravos, negros, brancos, libertos, índios, urbanos, rurais, intelectuais, pobres, nobres, grandes e pequenos proprietários, em que seus comportamentos políticos não eram simétricos na hierarquia social a que pertenciam, mas que também recebeu influências socialistas, com a presença constante de ex-revolucionários, degredados da Europa para a América francesa, inglesa ou hispânica. O artigo não tem a intenção de resgatar o mérito da divulgação destes ideais “socialistas”, mas verificar um certo “tráfico” interno de idéias e das condutas locais. Analisando as ações e os pensamentos próprios do universo cultural e social, principalmente das lideranças cabanas.
A Cabanagem atingiu um território de imensas proporções: desde os arredores da capital Belém, passando por toda a calha amazônica e seus principais afluentes, até as redondezas de Manaus. Nestas regiões não houve sujeitos ou grupo, que não tenha participado, ou pelo menos vivenciado de perto os combates. Grupos afastados, que por esta condição não participaram da Cabanagem, mas tomaram conhecimento a partir de eventuais relatos e narrativas de outros com quem vieram a se relacionar, em contextos ou situações que não os incluía nos combates.
Grupos ou indivíduos fugidos de povoados e vilas em busca refúgio, comentavam com os vileiros e quando os conflitos chegaram até seus territórios, estes eram obrigados ou a fugirem das contentas, migrando para lugares mais distantes; ou a tomarem partido nos conflitos, fundando alianças a partir de afinidades anteriores ou situacionais. A cabanagem foi um fato que foi tomando proporções em quase toda, e ate rompendo com o espaço da Amazônia, mas ela também transcende no tempo, criando imaginário e mentalidade nos diversos atores como se propagasse geneticamente com marcas atávicas, basta que alguém se sinta injustiçado para que o discurso seja um recurso de compensação para seus atos. Fatos são claramente observados nas práticas de governos como de Jader Barbalho e Edmilsom Rodrigues, que não se importava com a realidade que era diferente do contexto a revolução da cabanagem, mas usavam métodos de guerra usados por lideres da cabanagem, ou seja, o governador e o prefeito agiam como se estes fossem justiceiros, sustentados pela lei do “jusnaturalismo”, compensando as atrocidades que foram impostas contra o povo cabano de 1835 a 1840, e quem estivesse no meio do caminho seria atropelado pela maquina do “proletário revolucionário”. Portanto, justificado as atitudes de Jader que mandou matar Quintino, chamado como um “gatilheiro”, pelo articulador intelectual do monumento a cabanagem, o Carlos Rocque.
Edmilson Rodrigues atropelava a todos que estivessem contra as suas decisões nos expedientes pré-determinado do (OP), ou seja, as obras de serviços públicos, alem de instalações de equipamentos públicos eram definidas dentro do palácio Antonio Lemos e na grande maioria das obras aprovadas nas assembléias do OP, não passaram dos sonhos, portanto só na “fé” ou no “vira” que foi a grande contradição da tese do governo do Edmilson Rodrigues que não passava de teatro ou democracia “lúdica”, pois o prefeito sempre abria os trabalhos (OP) com discurso teatral de “prefeito cabano e povo cabano”, com base no seu slogan metafísico de campanha: “fé no que virá”, e sempre terminava essas atividades do OP, em festas e gritos de guerra, por seus militantes da força socialista de: “fora FMI”, fora FHC e Almir Gabriel” (Fundo Monetário Internacional, Fernando Henrique Cardoso), mas sempre acompanhado e observado pela sua “milícia cabana”.
Parecia, que os historiadores que faziam parte da tendência do “prefeito cabano”, como o professos Luis Araujo que foi secretário de educação do município (SEMEC) em conjunto com a historiadora Araceli Lemos que foi deputada estadual neste período, escreveram o script do roteiro da peça, as táticas eram as mesmas usadas pelos militantes do partido dos exaltados que em que fizeram parte na sua grande maioria dos lideres da cabanagem, no período regencial: - identificavam-se por gritos de guerra pela imprensa, como, fora os corcundas (déspotas e aliados); alerta! Valorização de gente de cor (mulatos, caboclos e negros livres); federação já! Morte aos marotos (portugueses malvados); aristocratas patifes; liberdade dos povos e outros. Um abuso de anacronismo, mas como afirmava Marx, dois fatos nunca se repetem e quando tentam, é uma farsa.
O prefeito Edmilson se comparando aos três presidentes cabanos, já mais poderia ser de fato comparado, porque o tempo era outro, os cidadãos também etc., quem sabe “talvez” Edmilson poderia se aproximar de Malcher, que teve um governo efêmero de menos de dois meses, por falta de habilidade em tratar com sua tropa, que foi um fator primordial para a sua queda, com Edmilson, não foi diferente, não gostava da corporações militar, reflexo da ditadura militar, mas a usava para ações de grande proporções na garantia da governabilidade, como o confronto com a Policia Militar no terreno da SANAV, retirada dos moradores do canal que foram transportados para o Conjunto Eduardo Angelim na Augusto Montenegro, o confronto com o trio elétrico do deputado federal Wladimir Costa na entrada de Mosqueiro e muitos outros. Mas nos seus oito anos de governo o único movimento que de fato este enfrentou e que lhe desmoralizou foi a greve de 18 dias da Guarda Municipal de Belém, citada neste texto.
Mas não se pode negar que os dois governos, tanto Jader Barbalho como Edmilson Rodrigues, podemos dizer que resgatou a marca que estava esquecida pelo povo que foi a luta da cabanagem, então a cabanagem não só se propagou no espaço do seu tempo, mas transcendeu ao tempo com governos e escritores que envolvidos em ideologias fomentam nas mentes e corações do povo paraense, seja em que local estiver, mas sempre terá um germe da revolução cabana. Um fato a ser comprovado, foram as atitudes do jogador de futebol paraense Sócrates da seleção brasileira e do Corinthians do Estado de São Paulo, foi o idealizador da “Democracia Corintiana, Foi o responsável pela negação do futebol ao regime militar que comandava a principal entidade de futebol do Brasil a Confederação Brasileira de Desporto (CBD), sendo que o seu presidente era o Almirante Heleno Nunez que manipulava o principal esporte no país, para esquivar os problemas sociais. Sócrates reagiu e conseguiu desmontar este esquema da ditadura militar que agia em consonância com os cartolas dos grande clubes do futebol brasileiro. Sócrates abriu uma faixa em companhia dos demais jogadores do Corinthians dizendo que, vencer não tudo, o importante é a democracia. Pois assim se concretiza o destino manifesto da cabanagem, um projeto político que é planejado respeitando o seu tempo, sem se importar com ideologias, mas sempre rompendo com os tradicionais no poder.





REFERÊNCIA

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A hora da desforra", por Júlio José Chiavenato, Revista História Viva, nº 45, páginas 84-91Editora Duetto –

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"Cabanagem (1835-1840) - Rebelião tem fim sangrento no período regencial". História do Brasil. Uol Educação

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CHIAVENATO, Júlio José. As lutas do povo brasileiro. São Paulo: Moderna, 1988.

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