LEI ANTIBAIXARIA DA DEPUTADA LUIZA
MAIA
A Assembléia Legislativa da Bahia
aprovou na noite de terça-feira o projeto de lei que impede que verbas públicas
estaduais sejam usadas para contratar ou patrocinar eventos com grupos musicais
de repertório que "desvalorize, incentive a violência ou exponha mulheres
à situação de constrangimento", a chamada "lei antibaixaria",
proposta pela deputada Luiza Maia (PT) no ano passado.
Segundo o texto do projeto,
aprovado por 43 dos 52 deputados que compareceram à votação (11 se ausentaram),
também está vetado o uso de dinheiro público estadual com bandas que façam
apologia a drogas ilícitas ou que incentivem racismo e homofobia. O projeto
prevê que sejam cobrados R$ 10 mil ao contratante que não incluir uma cláusula
restritiva com o tema no contrato com a atração musical e multa de 50% do cachê
caso a proibição não seja observada pelo artista. Não está definido, ainda,
quem vai fiscalizar e punir quem desobedecer a lei, que não se aplica às
prefeituras.
A lei agora aguarda a sanção do
governador Jaques Wagner (PT), que tem 30 dias para decidir se acata a decisão
da Assembléia. A primeira-dama, Fátima Mendonça, foi uma das apoiadoras do
projeto de lei. Apesar da folga na votação, o projeto causa grande polêmica no
Estado desde sua apresentação, em agosto. A principal alegação dos contrários à
medida é sua suposta inconstitucionalidade, pelo cerceamento - ou censura - da
produção artística.
"Nenhum deputado é favorável
à violência contra a mulher, mas temos de observar o artigo 5º da Constituição,
que diz ser livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e
de comunicação, independente de censura ou licença", disse, em plenário, o
deputado Elmar Nascimento (PR). O antropólogo Roberto Albergaria, da
Universidade Federal da Bahia (Ufba), também se posicionou contra o projeto e
disse ver nele "um precedente perigoso para a democracia".
Em sua defesa, Luiza diz que
"não admite censura" - e que seu projeto não vai nessa linha, porque
não impede a produção intelectual. De acordo com ela, o texto
"apenas" proíbe que a administração pública invista em bandas cujas
músicas "reduzem a mulher a peito, bunda e genitália". "Quem
quiser ouvir baixarias com o próprio dinheiro, que ouça", diz a deputada.
A Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB-BA) concordou com a deputada e
divulgou, ainda em setembro, um manifesto em favor do projeto. Na sequência, o
Ministério Público também declarou apoio oficial ao texto.
Diversos artistas da música
baiana, como Margareth Menezes, Magary Lord e Gerônimo, se engajaram pela aprovação
do projeto, enquanto outros, notadamente os principais alvos da lei, os grupos
do chamado pagode baiano - como Parangolé e Black Style -, foram contrários.
Outra polêmica envolvendo o texto é relativa à análise das músicas. "É
muito difícil definir o que é baixaria e o que não é", afirma o secretário
de Educação da Bahia, Osvaldo Barreto. A própria Luiza Maia, que fez a lei
mirando os grupos "que falam para ralar a genitália no chão", como
definiu, admite a dificuldade, mas afirma que não vai abrir concessões.
"São contextos diferentes, mas se eu tiver de brigar com Chico (Buarque)
ou Caetano (Veloso), eu brigo".
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